FORMULAÇÃO E DESENHO DA
REDE CARAJÁS DE EDUCADORES AMBIENTAIS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL LOCAL
“Aquilo
que se revela aos povos surpreende a todos não por ser exótico, mas pelo fato
de ter sido ocultado, mesmo quando era óbvio.” Caetano
Veloso
Esse texto foi apresentado durante o
Seminário “Educadores Ambientais e Desenvolvimento Sustentável Local” realizado
em Marabá no dia 07 de julho de 2005. O evento reuniu mais de 60 educadores
ambientais, gestores públicos e agentes de desenvolvimento local, representando
cerca de 40 instituições e movimentos sociais de 15 municípios do sudeste do
Pará, que se reuniram pela primeira vez na história da região para trocar
informações e traçar estratégias para um trabalho integrado de educação ambiental
e de cooperação interinstitucional. Os participantes deliberaram pela criação
da Rede Carajás de Educadores Ambientais e Desenvolvimento Sustentável Local,
cuja missão, objetivos, diretrizes de ação e pressupostos teóricos são aqui
apresentados.
O texto é uma compilação da formulação de
diversos cientistas sociais, facilitadores e educadores ambientais que têm
teorizado e compartilhado suas experiências, relacionados na bibliografia ao
final. As aspas foram evitadas por tratar-se de uma compilação, sem pretensão
de ser inédito, mas apenas impulsionar a reflexão coletiva. A bibliografia
também serve como um fio condutor para quem se interessa em aprofundar no tema.
O QUE É
REDE?
Uma rede é uma costura dinâmica de muitos
pontos, é uma forma de organização capaz de reunir pessoas e instituições em
torno de objetivos comuns, primando pela flexibilidade, dinamismo, democracia e
descentralização na tomada de decisões, com alto grau de autonomia de seus
membros e horizontalidade das relações entre seus elementos.
CARACTERÍSTICAS
FUNDAMENTAIS DE UMA REDE
A rede tem características específicas, que a
distinguem de outros tipos de estruturas organizativas, que são:
·
Autonomia das pessoas e
instituições que compõem a rede;
·
Horizontalidade das relações entre
seus componentes;
·
Cooperação como modo de
trabalho; e,
·
Interação na constante troca de
informações.
Essas características se desdobram em
diversos aspectos que produzem a identidade da rede, dentre os quais podemos
destacar:
1.
CONECTIVIDADE
A conectividade é um aspecto de ligação e
interligação entre os integrantes da Rede. Esse princípio é fundamental, pois
quanto maior for a participação e conectividade dos seus membros, mais efetiva
será a Rede. Neste contexto, cada membro é desafiado a fazer novas conexões. A
conectividade e a participação dos membros nas ações da rede são o suporte para
seu fortalecimento e credibilidade.
2.
AUTONOMIA
Cada indivíduo torna-se membro da rede por
vontade própria, essa vontade é fruto do desejo individual de integrar um
projeto coletivo que, apesar de seu caráter coletivo, mantém a independência
dos membros em relação à rede e aos demais membros. Isso condiciona o
estabelecimento das regras que orientam os relacionamentos no interior da rede.
Também acentua relações igualitárias de membros empoderados entre si, pois cada
participante tem sua governabilidade e nível de poder já estabelecido.
3.
DESCENTRALIZAÇÃO
Uma rede não tem centro, pois não tem poder
concentrado. No processo relacional entre seus membros, cada ponto é um centro
virtual da rede de onde podem convergir todas as ações e brotar as decisões.
Esse processo produz a descentralização. Numa rede há investimentos de
confiança e poder no participante do sistema, qualquer que seja ele.
4.
HORIZONTALIDADE
Entre os membros da rede não existe
hierarquia, já que a autonomia de cada um é preservada e sua adesão à rede é
voluntária. Isso garante a desconcentração do poder. A isonomia, ou seja, o
tratamento igual para todos, é um dos fatores inibidores de hierarquia dentro
da rede.
Quando a realização de um objetivo depende do
engajamento consciente de todos na ação, o comando e controle do que os outros
fazem ou deixam de fazer torna-se secundário: tem que se contar é com a
lealdade dos membros para com todos, baseada na co-responsabilidade e na
capacidade de iniciativa de cada um, e a organização pode ser feita numa
estrutura em rede, horizontal.
5.
COOPERAÇÃO
É um aspecto de trabalho coordenado entre
parceiros que são iguais entre si, e regidos pelo mesmo conjunto de regras e
procedimentos. A cooperação é um modo de operação e também um valor que deve
ser compartilhado por todos na rede. A participação em redes não requer
qualquer habilidade especial, a não ser a predisposição a cooperar. A
cooperação gera dinamismo, o que faz com que a rede seja uma estrutura em
movimento permanente.
6.
INFORMAÇÃO
As informações são elos básicos, fios e
tessituras que dão consistência a uma rede, elas transitam pelos canais que
interligam seus integrantes. Por não existir centro nem hierarquia entre seus
membros, há liberdade na circulação de informações, bem como na
intercomunicação horizontal, que são exigências essenciais para o bom
funcionamento de uma rede. Todos os membros devem ter acesso a todas as
informações que nela circulam pelos canais que os interliguem.
7.
RESPEITO À DIVERSIDADE
A preservação da autonomia de cada um leva ao
respeito à diferença e à diversidade. Cada membro da rede é um ser autônomo que
prima por sua individualidade e pela diferença que esta representa. A rede é
uma espécie de contrato de interdependência, que preserva a autonomia de cada
um no interior do sistema.
A razão de existir da rede é um conjunto de
propósitos comuns a todos os participantes. Em geral, esse conjunto de
propósitos incorpora também um conjunto de valores e objetivos comuns.
Participar de uma rede implica, portanto, compartilhar dos mesmos propósitos,
valores e objetivos comungados pelos integrantes da rede.
8.
DEMOCRACIA
A democracia é um aspecto que valoriza a
liberdade de opinião, e negociação e a construção coletiva. Sem democracia não
há rede, pois não há outra forma de se tomar decisões e de solucionar conflitos
dentro de uma rede senão pela democracia. Como na rede não se estabelece
hierarquia, a democracia propicia ambiente favorável à distribuição de tarefas
em níveis diferentes de responsabilidade, com vistas à realização dos objetivos
perseguidos. O grau de democracia de uma rede é medido pela liberdade para
entrada e saída de membros e pela livra circulação de informações, sem censuras
ou manipulações.
COMO ORGANIZAR A REDE
O
PROJETO DA REDE
O primeiro passo para se organizar uma rede
formal é identificar claramente seu objetivo, ou seja, o que visam alcançar os
que querem assim se organizar.
DEFINIR
ATRIBUIÇÕES E LEGITIMAR REPRESENTAÇÃO
Em uma rede todos são iguais, todos têm
iniciativa, todos são sujeitos de sua ação, guardam sua liberdade e são
co-responsáveis pela ação da mesma. Para que a rede funcione é necessário que
haja a distribuição de funções. Os integrantes da rede têm que saber a quem
enviar informações e como as enviar, assim como a quem pedir informações e como
pedi-las.
Uma rede supõe, portanto, algum tipo de
serviço que facilite essa circulação, por exemplo, um secretariado ou um
conjunto de secretariados interligados, cuja função é de facilitação da
intercomunicação – e não de direção, comando ou coordenação da rede – não lhes
sendo atribuído, portanto, o poder de controlar, esconder, hierarquizar,
selecionar, censurar ou orientar informação que deva circular.
Tais secretariados, que “servem” à rede,
devem ter seu poder legitimado pelos seus participantes. Ou seja, têm que ser
aceitos ou escolhidos e “sustentados” materialmente, direta ou indiretamente,
por eles.
SUPORTE
SISTEMÁTICO
A circulação de informações supõe também
algum tipo de suporte sistemático – escrito, gráfico, auditivo ou informatizado
– que faça chegar a informação ao conjunto de participantes, no ritmo,
freqüência, linguagem e modo estabelecido de comum acordo por eles.
LIVRE
CIRCULAÇÃO DE INFORMAÇÕES
Se algum participante quiser fazer uma
proposta de ação conjunta, esta deverá circular por toda a rede como qualquer
outra mensagem. A organização da ação conjunta proposta caberá àqueles que
assumirem, sem que haja obrigatoriedade de participação dos demais.
ENCONTROS
PRESENCIAIS
Os participantes de uma rede podem se
encontrar pessoalmente e se reunir sempre que o considerarem necessário ou
possível – para debater questões ou mesmo simplesmente festejar. Dependendo das
dimensões da rede, tais encontros podem ser elemento importante – e mesmo
decisivo – de sua consolidação, pelas relações interpessoais de amizade que
assim se estabelecem. Nenhuma reunião desse tipo pode ter, no entanto, caráter
deliberativo para o conjunto de participantes da rede. Quaisquer deliberações
só vinculam aqueles que a tenham
assumido.
LIVRE
CIRCULAÇÃO DE MEMBROS
Uma rede está sempre aberta para a entrada de
novos membros que aceitem as regras de intercomunicação estabelecidas, ainda
que as mesmas possam e devam ser revistas à medida que a rede alcance seus
objetivos defina novos objetivos. O auto-desligamento de qualquer de seus
membros não deve, por outro lado, constituir problema, para que se assegure a
plena liberdade de opção de cada um.
A REDE CARAJÁS
ALGUNS
ASPECTOS QUE NOS UNEM:
Territorialidade (38
Municípios do Sudeste do Pará)
Ecossistema
(Amazônico - Fronteira de Expansão)
Gestão e Educação
Ambiental incipientes
Cultura (População
majoritariamente migrante
Potencial (Riquezas
naturais e crescimento econômico)
OBJETIVO:
Articular os educadores ambientais e agentes
de desenvolvimento local criando laços e fomentando ações sociais,
educacionais, políticas, econômicas e culturais de construção de padrões
sustentáveis de vida nos municípios do Araguaia Tocantins.
FOCOS
DE ATUAÇÃO:
Disseminação de
informações de qualidade; Qualificação e
capacitação de educadores ambientais e agentes de desenvolvimento local sustentável;Promoção de agendas 21 locais, COM-VIDAS;
Elaboração de programas e projetos de educação ambiental e de desenvolvimento sustentável local;
Estímulo a rádios comunitárias e processos de educomunicação;
Incorporação da alfabetização ecológica;
Fortalecimento das organizações e movimentos da sociedade civil;
Fortalecer/criar laços entre a escola e o desenvolvimento local, entrelaçados pela educação ambiental.
OPORTUNIDADES
· I
Encontro PAN-AMAZÔNICO de Educação ambiental;
· I
Reunião Regional de representantes de CINEAS - Região Norte;
· II
Encontro Estadual de Educação Ambiental;
· Ações
da UNESCO/ONU na promoção da Década para o Desenvolvimento Sustentável;
· Programa
“Municípios Educadores Sustentáveis” (MES) - coordenado pelo MMA;
· Programa
“Educação de Chico Mendes”, coordenado pelo MEC;
· II
Conferência Nacional do Meio Ambiente;
· II
Conferência Infanto-Juvenil para o Meio Ambiente;
· Programas
financiados por organismos internacionais;
· Metas
do Milênio – ONU;
· Fundo
Nacional do Meio Ambiente;
· Fundo
Estadual do Meio Ambiente;
· Programa
“Salas Verdes” – coordenado pelo MMA;
· SIPAM
– Sistema de Proteção da Amazônia;
· Programa
“Pontos de Cultura” – coordenado pelo Ministério da Cultura;
· Redes
Nacionais e Globais.
DIRETRIZES
PARA O FUNCIONAMENTO:
1. Cada
Instituição/Entidade/Pessoa é um elo da Rede;
2. A adesão à Rede é
livre e tem como único pré-requisito concordar com seus objetivos;
3. Cada município poderá
ter facilitadores da rede referendados pelos elos da rede;
4. O secretariado é
responsável por estimular a participação, captar recursos e facilitar o funcionamento da rede;
5. Cada elo deve
providenciar o acesso regular à Internet, como meio de comunicação privilegiado
da rede;
6. A rede deverá prever
encontros presenciados de seus elos.
SECRETARIADO DA REDE CARAJÁS:
Antonio Rosa (SEMMA Marabá)
Fidelis Paixão (Agenda 21 Rondon do Pará)
Edvandro (Depto Educação Ambiental Parauapebas)
Alessandra (Técnica da AMAT)
Alice de Paula (SEMMA Canaã do Carajás)
Eduardo (SEMMA Conceição do Araguaia)
Autor: Fidelis Paixão
Advogado
Agente de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável qualificado pela PUC-MG e AED/PNUD
Coordenou a implantação da Agenda 21 Local e do Sistema Municipal de Gestão Ambiental de Rondon do Pará
Advogado
Agente de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável qualificado pela PUC-MG e AED/PNUD
Coordenou a implantação da Agenda 21 Local e do Sistema Municipal de Gestão Ambiental de Rondon do Pará
Fone de contato: (94) 3326 1242
E-mail: fidelispaixao@gmail.com
BIBLIOGRAFIA
Redes e
desenvolvimento local. Cássio Martinho: AED, Revista Aminoácidos, nº. 1, 2001.
O projeto das redes:
horizontalidade e insubordinação. Cássio Martinho: AED, Revista Aminoácidos,
nº. 2, 2002.
A rede como fábrica
de possibilidades. Cássio
Martinho: AED, Revista Aminoácidos, nº. 5, 2003.
Introdução
às Redes.
Cássio Martinho, texto na internet: cassiomartinho@aed.org.br
Rede:
Uma estrutura alternativa de organização. Chico Whitaker, CEDAC, Revista Mutações
Sociais, ano 2, nº. 3, março a maio 1993.
Construindo
uma comunidade de prática em DLIS. Texto apresentado por ocasião do II
Encontro de Projetos PNUD e Parceiros em Desenvolvimento Local Integrado
Sustentável – DLIS; Brasília, 2 e 3 de dezembro de 1999.
A
prática da gestão de redes: uma necessidade estratégica da sociedade da
informação.
Ana Cristina Fachinelli, Christian Marcon e Nicolas Moinet. Publicado na
Revista Com Ciência.
Rede de
Microempresas e trabalhador empreendedor. Pedro Cláudio Cunca Bocayuva. FASE-RJ.
Texto produzido para o seminário sobre desenvolvimento local integrado e
sustentável da Agenda Social Rio, agosto de 1999.
A
Revolução das Redes: a colaboração solidária como uma alternativa pós-capitalista
à globalização atual.
Euclides André Mance, IFIL, dezembro de 1998.
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